domingo, 6 de novembro de 2011

A aceitação e a subserviência frustando o profissional.

Bom, antes de começar esse texto é preciso que eu diga: toda a reflexão contida nele é do trabalho realizado na vida artística, bem antes da vinda para a África e, por isso, não há nenhuma relação com o que estou fazendo aqui.


Quem trabalha com arte, seja ela corporal ou não, tende a acreditar que ela nos transforma na medida que nos oferece o conhecimento e o senso crítico capaz de nos tirarmos da letargia e da paralisia em que nos encontramos.
A arte, quando é arte, tem esse poder. 
Um poder de nos conectar com os nossos valores e nos fazer reavaliá-los e mudar seus rumos. 
Sou daqueles que acreditam na razão como a única forma de saber e ver o mundo.
Não é por menos que me inspiro em grandes artistas como Brecht, Saramago, Almodovar, David Lynch entre outros.


Obviamente que a razão sozinha não é capaz de nada. A pessoa precisa também sentir, lidar com as emoções, com as relações e com a sensibilidade de um contato, uma beleza, um "átimo de visão".
Ou seja, a grande arte é aquela que alia estética e conteúdo.
Também tenho a ciência de que essa é uma das formas de pensar a arte. Há outras, com também resultados muito belos e interessantes.
Pois bem. Mas, a partir do momento que me descobri esse artista, que vai nessa busca, eu tinha dois caminhos a seguir: ou buscava estar sempre conectado a pessoas com esse pensamento para poder atuar e interpretar um personagem acreditando no que eu fazia, ou eu mesmo difundiria essa ideia a partir do que vivi ou vou vivendo.


E nos passos que a vida leva acabei optando pela segunda. Dediquei parte da vida a fazer essa difusão. 


Obviamente, tive grandes resultados: pessoas que resolveram seguir o mesmo caminho, àquelas que foram buscar o conhecimento e a criticidade em outras áreas e, até mesmo, pessoas que passaram a se dedicar intensamente ao trabalho social, até mesmo fora do Brasil.


No entanto, e aí está o principal motivo desta reflexão, tive grandes frustrações.
E a principal delas é saber que instrumentalizei pessoas para fazerem da arte, ou do meio artístico, melhor dizendo, ferramenta de doutrina, ideologia alienante e difusora de valores exatamente opostos ao que acredito. Pessoas que têm voltado o seu conhecimento para neutralizar o pensamento alheio por meio da aceitação e subserviência a algo abstrato.


Terei escolhido a pior das opções? Devo mudar o rumo como artista? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário