quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Aulas enlatadas: para onde caminha a política educacional brasileira?

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Há décadas o mundo curvou-se ao prêt-à-porter, ao fast-food, à intensidade consumista e assim foi se acostumando com a rapidez com que o tudo pronto, o nem sempre necessário, o efêmero se impõem à nossa vida*.

Enlatam-se frutas, sopas, carnes e tudo que couber em belas embalagens que, com a força de uma boa campanha publicitária, virarão dólares, mesmo com gosto pasteurizado ou sem sabor.

Aulas não se podem enlatar. Ou podem? O Ministério da Educação anunciou nos últimos dias que comprará aulas semi-prontas, industrializadas, uma espécie de modelo tamanho único para ‘auxiliar’ pedagogicamente os professores. (Dilma convida professor norte-americano Salman Khan para parceria em projeto na educação básica, agência Brasil, 16/01/2013 – 19h10).

As aulas do professor Khan foram muito bem compostas por sua finalidade inicial: auxiliar sua prima, que morava distante, a compreender matemática. Ambos dialogavam pela internet e assim, neste processo de mediação, permeado pelo conhecimento recíproco e pela afetividade, foram compondo aprendizagens. Afinal, Khan deveria conhecer a sua prima para ensiná-la. Como afirma Snyders: para ensinar latim a João é preciso conhecer latim e conhecer João.
A aula é uma prática social realizada numa condição historicamente situada, que envolve uma dinâmica de contextualizações e atualizações, que não se faz numa única direção de injetar conteúdos prontos; a aula se faz a partir de mediações e atribuição de sentidos e significados entre estudantes e professores.

Foto: Masao Goto FilhoA aula não pode estar pronta antes do encontro professor-estudante, portanto, não pode vir enlatada. Transmitir conteúdo não representa dar aula. A aula é o meio utilizado pela escola para a formação de pessoas, é o momento em que, para aprender, é necessário que o estudante incorpore o conteúdo a seu nível de significado e a função do professor é de identificar diferenciados processos de compreensão, dúvidas, hipóteses dos estudantes, saberes envolvidos no ciclo ensinar/apreender, colaborando para as possibilidades de articulações com outras aprendizagens. O professor começa a construir a aula com o aluno antes de encontrá-lo, mesmo na modalidade a distância.

Sabemos qual a equação para a melhoria da qualidade da educação brasileira: boa formação de professores, condições dignas de trabalho, adequado ambiente escolar e capacidade de gestão democrática das equipes dirigentes.

Medidas como essa em questão contrariam a luta histórica de educadores contra a importação de modelos educacionais e a favor de uma política educacional brasileira, comprometida com as nossas necessidades e possibilidades.

Felizmente o professor Khan recusou o convite. No entanto, assusta-nos que nossas lideranças não tenham considerado questões fundamentais, pontuadas pelo convidado.

Esse convidado apoiado em seu bom senso recusou o convite. Outros não recusarão. Alertemo-nos: a recusa não significa que Dilma mudou de ideia. Assim permanece nossa tensão sobre a próxima fórmula mágica que se buscará para equivocar nossa educação!

Quando parece que estamos avançando no campo da Educação retrocedemos com escolhas tão contraditórias. É frustrante! Fica a pergunta: para onde está caminhando a política educacional brasileira?

*As autoras Maria Amélia Santoro Franco (Unisantos), Marineide Gomes (Unifesp/EFLCH), Cristina Pedroso (USP/FFCLRP) e Valéria Belletti (Instituto Federal de São Paulo) são doutoras em Educação e integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação do Educador (GEPEFE) da USP

fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/aulas-enlatadas-para-onde-caminha-a-politica-educacional-brasileira/

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Nova história contemporânea da América Latina

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Por Carlos Eduardo Lins da Silva

Agência FAPESP – O ambicioso projeto de produzir uma nova história contemporânea da América Latina em cem volumes, com textos de cerca de 400 especialistas de 25 países, foi apresentado no dia 13 de dezembro por um de seus coordenadores, Javier Bravo Garcia, durante o simpósio “Fronteras de la Ciencia – Brasil y España en los 50 años de la FAPESP, promovido pela FAPESP e pela Casa do Brasil em Madri.

Bravo Garcia explicou que, na perspectiva de seus idealizadores, a coleção pretende mostrar a América Latina como protagonista da história, mas não como se fosse um monólogo. A Europa, a América do Norte e os demais continentes também estão presentes no projeto, ainda que na condição de coadjuvantes.

O coordenador considera ter sido uma interessante coincidência histórica que o projeto, chamado “América Latina na História Contemporânea”, tenha se iniciado em 2008, quando a crise financeira global começava a rearranjar a geopolítica mundial de forma que as economias emergentes da América Latina passaram a dar a ela um papel mais proeminente e as dos países da União Europeia a relegaram a uma função mais secundária.

No caso do Brasil, a coleção de livros História do Brasil Nação: 1808-2010, coeditada pela Editora Objetiva, é composta de seis volumes, que serão publicados até o 1º semestre de 2013, sob a coordenação da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz e a participação de 28 autores.

O terceiro volume da coleção brasileira, História do Brasil Nação – A abertura para o mundo: 1889-1930, foi lançado em setembro deste ano. O primeiro se chama Crise Colonial e Independência: 1808-1830 e o segundo, A construção nacional: 1830-1889.

Também fazem parte do projeto, que é patrocinado pela Fundación Mapfre e pelo grupo Santilana, exposições de fotos, como a que está em exibição atualmente no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo: Um olhar sobre o Brasil: A fotografia na construção da imagem da nação, com curadoria do historiador e fotógrafo Boris Kossoy.
Na mesma sessão do simpósio em Madri, Marcelo Ridenti, professor de sociologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), falou sobre o tema “Caleidoscópio da cultura brasileira – 1964-2000”, que se integra no Projeto Temático da FAPESP intitulado “Formação do campo intelectual e da indústria cultural no Brasil contemporâneo”.

Ridenti falou como nesse período ocorreram conjuntamente processos de grande impacto sobre a sociedade, em especial os das rápidas industrialização e urbanização e da democratização e massificação da cultura, marcados pela contradição da convivência do moderno com o arcaico, do progresso com o atraso, do desenvolvimento com as desigualdades.

“O campo intelectual e a indústria cultural no Brasil se formam e se fortalecem concomitantemente, diferentemente do que aconteceu na Espanha, na França e nos demais países da Europa, onde aquele já estava estabelecido quando a segunda começou a se estruturar”, disse.

Assim, aconteceu nessa época uma crescente profissionalização dos produtores de cultura no Brasil, com todas as consequentes vantagens e desvantagens dessa situação típica de desenvolvimento desigual e combinado que caracteriza fortemente a atividade intelectual brasileira.
Ridenti mostrou à audiência diversas tabelas sobre o crescimento rápido e intenso de aparelhos de TV no Brasil, assim como do aumento extraordinário de admissões no ensino superior e decréscimo do analfabetismo formal (mas não do funcional) ocorridos nos 46 anos englobados em sua pesquisa.

Em especial durante o regime militar, ressaltou Ridenti, as contradições eram frequentes: artistas premiados pelo Estado tinham muitos de seus trabalhos censurados, acadêmicos com bolsas de entidades estatais iam para o exterior estudar e lá desenvolviam atividades de oposição política ao regime, por exemplo. 

fonte: agencia.fapesp.br/16639