Sobre o último domingo 15 e o que ele representa.
Diego Riveira - O Homem na encruzilhada, 1934 |
Já se disse e se escreveu muito sobre as tentativas de golpes da direita, seja institucional (impedimento) ou militar. Também já foi bastante explorado a dificuldade em aceitar a derrota eleitoral, os interesses políticos por trás das manifestacoes e as diferencas de estilos entre os que apoiam o golpe e os que o rechacam.
Porém, pouco se disse até agora sobre o que ele representa simbolicamente.
Os novos cara pintadas de 2015 gostam de chamar os demais de esquerdistas, esquerdopatas e de falar contra o tal Karl MARX. Marx, que aliás, tem como base nos seus estudos a questao da LUTA de CLASSES.
E nao é que os críticos a esquerda estao exatamente fortalecendo a esquerda e as ideias de MARX?
A midia internacional divulgou amplamente ontem, 15, que as pessoas que estavam nas ruas eram, em sua grande maioria, brancas e mais velhas. Definiram o perfil dos ricos e, quem é minimamente conhecedor da situacao social sabe que pobres, negros e jovens sao a maioria da populacao brasileira. É claro que há negros ricos, brancos pobres ou jovens brancos nas manifestacoes de ontem. Mas sao exceções à lógica presente.
Sendo assim, e voltando a MARX, o que se ve é que o Brasil tem latente uma luta de classes. De um lado, os pobres e a classe media baixa e seus apoiadores que, muito mais politizadas que antigamente, gracas ao trabalho sistemático dos movimentos sociais como o MST, MTST, etc, saíram as ruas na sexta 13 para dizer: nao aceitaremos o golpe.
Do outro, uma grande parcela da populacao que clama pelo fim das politicas sociais que tem diminuido as diferencas sociais, tem dado direitos trabalhistas a quem nao tinha, como por exemplo, as domesticas, mas, por ser demasiado dificil dizer isso publicamente, travestem-se no discurso do combate a corrupcao e ao esquerdismo bolivariano (só gostaria de ver uma dessas pessoas definirem, sem interpretacoes o que é a esquerda e quais os ideais defendido por Simon Bolivar).
Ha ainda uma parcela grande da populacao que nao se manifestou em nenhum dos dois atos por ter o primeiro sido também travestido de apoio a democracia, mas que, no fundo, era para dar apoio ao grupo politico que está no comando do país.
O que me pergunto é: com a luta de classes agora explícita, elas e eles deste grupo conseguirão manter-se a margem do debate?
Neste sentido, acredito que os esquerdistas, como este que escreve, devem agradecer aos Mainardis, Jabores, Mervais, Bonners, Constantinos, etc, por fortalecer o discurso marxista evidenciando a luta de classes e permitindo que os "trabalhadores do mundo, uni-vos"(Karl Marx, manifesto do partido comunista).