domingo, 13 de junho de 2010

Quando todos são nenhum




O dia do Sr José na Conservatória Geral do Registo Civil é um dia típico de um funcionário da burocracia pública. Sua tarefa consiste em preencher verbetes de pessoas que nascem e morrem todos os dias. Vizinho do seu trabalho, a diversão do Sr José é colecionar recortes de periódicos e notícias de gente famosa, celebridades.
Um dia, ele resolve anexar à sua coleção de celebridades os verbetes da Conservatória, que furta durante o período noturno. Numa dessas "pesquisas", o Sr José retira o verbete de uma mulher desconhecida e  resolve investigar  sobre esta mulher.
É a partir daí que a genialidade de José Saramago vêm à tona. Acompanhando o dia-a-dia desse funcionário e as dificuldades e aventuras em prosseguir com sua pesquisa o leitor é chamado a refletir sobre
a solidão.
O Sr José é um homem preso ao vazio de sua existência, a procura de si mesmo, a partir da procura do outro.
Escrito em 1997,"Todos os Nomes" é uma resposta clara e evidente ao caos criado na mídia nos tempos atuais, onde celebridades se criam e são criadas a todo o instante.
Ser famoso não é uma situação tão nova, porém a curiosidade e o voyerismo crescente e a quantidade de gente nessa situação é que impressiona.
E é essa a genialidade de Saramago. O ponto central da obra é descobrir-se como um ser passivo, solitário, que busca no mundo fictício, virtual e imaginário um afago a suas dores e aflições.
Saramago é o autor mais refinado, inteligente, sensível e criativo dos últimos 50 anos. Acompanhar suas narrativas é como abrir um novo mundo a sua frente. É saber-se não saber. É Ter tudo e ao mesmo tempo nada. Um homem que encontra na sua arte uma dialética tão buscada e nem sempre conseguida por grandes artistas. Sem dúvida, esta não é a única obra de Saramago que merece ser lida, mas é tão atual como outras como "O homem duplicado" ou "A caverna".
por Dani Ciasca









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