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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
terça-feira, 16 de outubro de 2012
A razão do sucesso de Avenida Brasil.
(clique no título acima para ver a postagem completa)
Na próxima sexta, 19, termina a telenovela Avenida Brasil. Enorme sucesso, este fenômeno televisivo causou espanto na mídia por, pela primeira vez, atingir e cativar o público masculino e o feminino juntos.
As explicações para isso são muitas e não conseguirei aqui listá-las todas, mas a principal receita de sucesso desta novela é ela ser a antítese do politicamente correto.
O público tá de saco cheio de ficção certinha e em Avenida Brasil o autor João Emanuel Carneiro reverteu e inverteu tudo.
- Carminha apanha quando apronta, a despeito da Lei Maria da Penha.
- Todos os personagens quando tem um problema enchem a cara, afogam as mágoas no álcool.
- A poligamia de Cadinho é aceita e assumida por suas 03 mulheres e pela comunidade.
- A evangélica que era atriz pornô se desconverte e abandona a religião pra voltar a vida de prazer.
- A mais gostosa se assume como maria chuteira e faz disso seu trunfo pra pegar todo mundo.
- Mas ela ainda faz mais e tenta ( e consegue por um tempo) atrair sexualmente um gay.
- Roni, o gay em questão, consegue seu namorado no esquema casamento a 3.
e por aí vai...
Avenida Brasil traz então uma questão que deve e precisa ser debatida: ficção precisa ser politicamente correta?
É claro que tem os caga-regras que acham que deve (ver aqui a crítica do Leonardo Sakamoto). Talvez se ele assistisse a toda a novela, como assume que não faz, entenderia que Carminha de ingênua não tem nada, mas isso é outra história...
Por fim, essa questão da novela que trago ao debate é a central razão de seu sucesso e não o retrato da nova classe C, como alguns acham. Tem muita novela que tenta retratar essa camada social e não consegue exatamente por tratá-la da forma mais burguesa existente no Brasil. Não adianta colocar os personagens na favela se eles agem como moradores de ipanema.
O que está em jogo é o retrato ficcional de uma sociedade que, na prática, é cheia de moral às avessas, onde os valores conservadores não penetram com tanta força e onde o prazer e o impulso falam mais alto do que a razão. E quem somos nós para julgá-los?
PS: Eu acharia ruim se a novela fizesse apologia a violência doméstica, por exemplo, ou outras questões sociais complexas, mas não é o caso em Av Brasil.
Na próxima sexta, 19, termina a telenovela Avenida Brasil. Enorme sucesso, este fenômeno televisivo causou espanto na mídia por, pela primeira vez, atingir e cativar o público masculino e o feminino juntos.
As explicações para isso são muitas e não conseguirei aqui listá-las todas, mas a principal receita de sucesso desta novela é ela ser a antítese do politicamente correto.
O público tá de saco cheio de ficção certinha e em Avenida Brasil o autor João Emanuel Carneiro reverteu e inverteu tudo.
- Carminha apanha quando apronta, a despeito da Lei Maria da Penha.
- Todos os personagens quando tem um problema enchem a cara, afogam as mágoas no álcool.
- A poligamia de Cadinho é aceita e assumida por suas 03 mulheres e pela comunidade.
- A evangélica que era atriz pornô se desconverte e abandona a religião pra voltar a vida de prazer.
- A mais gostosa se assume como maria chuteira e faz disso seu trunfo pra pegar todo mundo.
- Mas ela ainda faz mais e tenta ( e consegue por um tempo) atrair sexualmente um gay.
- Roni, o gay em questão, consegue seu namorado no esquema casamento a 3.
e por aí vai...
Avenida Brasil traz então uma questão que deve e precisa ser debatida: ficção precisa ser politicamente correta?
É claro que tem os caga-regras que acham que deve (ver aqui a crítica do Leonardo Sakamoto). Talvez se ele assistisse a toda a novela, como assume que não faz, entenderia que Carminha de ingênua não tem nada, mas isso é outra história...
Por fim, essa questão da novela que trago ao debate é a central razão de seu sucesso e não o retrato da nova classe C, como alguns acham. Tem muita novela que tenta retratar essa camada social e não consegue exatamente por tratá-la da forma mais burguesa existente no Brasil. Não adianta colocar os personagens na favela se eles agem como moradores de ipanema.
O que está em jogo é o retrato ficcional de uma sociedade que, na prática, é cheia de moral às avessas, onde os valores conservadores não penetram com tanta força e onde o prazer e o impulso falam mais alto do que a razão. E quem somos nós para julgá-los?
PS: Eu acharia ruim se a novela fizesse apologia a violência doméstica, por exemplo, ou outras questões sociais complexas, mas não é o caso em Av Brasil.
terça-feira, 20 de março de 2012
O medo venceu a esperança?
(clique no título acima para ver a postagem completa)
Concordo 100% com o artigo abaixo do deputado Jean Wyllys
Concordo 100% com o artigo abaixo do deputado Jean Wyllys
Certa vez, em resposta a uma das minhas frequentes manifestações no Twitter contra o discurso populista e hipócrita de parlamentares do DEM e do PSDB, um dos meus milhares seguidores me chamou de “petista enrustido”.
No momento, achei a expressão um equívoco. Mas, depois, conclui que ele, o seguidor, não estava de todo equivocado. Em que pese a minha opção consciente e consequente pelo PSOL no momento de me filiar a um partido político, a verdade é que a minha formação e engajamento políticos passam, sim, pelo PT mesmo sem nunca ter integrado oficialmente o mesmo.
Na eleição presidencial de 1989 (a primeira eleição direta após duas décadas de ditadura militar), embora não tivesse idade para votar – eu votaria pela primeira vez nas eleições de 1994 – fiz intensa campanha para Lula e desfilava pelos corredores do Centro Educacional Cenecista Alcindo de Camargo, onde cursava a oitava série, com a camisa e a mochila decoradas por botons do partido, a cantarolar o jingle da campanha “Sem medo de ser feliz”, envolvido que eu era, então, com o movimento pastoral da Igreja Católica e membro de uma CEB (Comunidade Eclesial de Base), ambos íntimos do PT.
Lula não venceu aquela eleição, para nossa tristeza. Mas venceria a de 2002, em que enfrentou o candidato tucano José Serra, em cujo vídeo de campanha a atriz Regina Duarte (a quem admiro e respeito sinceramente) aparecia afirmando ter “medo” do candidato petista. Como candidato que já naquela época flertava com a direita e suas táticas políticas, José Serra e sua equipe tinham o objetivo claro de manipular os medos e os preconceitos da maioria da população por meio do depoimento de uma atriz popular. Não deu certo. Lula venceu a eleição.
“A esperança venceu o medo”, dizíamos todos que acreditávamos que, ao chegar à Presidência, o PT traria dias melhores para o país, aproveitando-se do que havia de bom no legado deixado por Fernando Henrique Cardoso.
Bom, não podemos chamar a conversão de pobres em consumidores necessariamente de “dias melhores” (o consumo não veio acompanhado de uma educação para o consumo, por exemplo, e os efeitos desse consumo no meio ambiente já se fazem notar), mas é inegável que, em seus dois mandatos, Lula deu mais atenção à pobreza que o antecessor Fernando Henrique Cardoso.
Não que os banqueiros e o mercado financeiro e os grandes empresários e os latifundiários e os corruptos tenham deixado de ganhar durante os governos Lula, ao contrário. Mas Lula deu alguma atenção à pobreza porque, para usar suas próprias palavras, “cuidar dos pobres no Brasil é muito barato”, ou seja, na prática, não custa quase nada “às elites” egoístas que, até a chegada de Lula à presidência, opunham-se a dar essa migalha ao povo sofrido – uma sensibilidade que o sociólogo não teve e que o operário nordestino só teve porque conheceu, de perto, a pobreza.
Não foi feita a reforma agrária nem a fiscal nem a política. Lula apenas acenou para as minorias sociais (mas ao menos acenou!) sem implementar políticas públicas eficazes nem pressionar sua base parlamentar para aprovar leis que garantissem os direitos humanos dessas minorias e atendessem às suas reivindicações.
Contudo, no segundo turno da eleição de 2010, demos mais um voto de confiança no PT, em parte porque o candidato José Serra e as forças políticas tenebrosas que se agregaram em torno dele não mereciam confiança nem voto, em parte porque a esperança é a última que morre, ou seja, acreditamos que os oitos anos da era Lula serviram para criar as bases para um avanço real em justiça social e garantias de liberdades civis e direitos humanos, sobretudo porque quem se opunha a Serra era uma mulher que sentiu, na pele, as dores da violação de direitos humanos e da privação de liberdades.
O primeiro ano do mandato de Dilma Rousseff mostrou que estávamos enganados; que o PT enganou a todos nós.
Ao contrário do que foi dito naquele ano de 2002, o medo venceu a esperança. O medo se tornou a paixão dominante da presidenta. “O medo é a moda dessa triste temporada”, para citar o belo verso de Zeca Baleiro.
No que diz respeito à garantia e promoção de direitos humanos de minorias e ao enfrentamento das tenebrosas forças políticas que já estiveram ao lado de Serra e, hoje, compõem a base do governo e têm influência no Palácio do Planalto e nos ministérios, a presidenta Dilma está paralisada pelo medo.
Eu poderia citar algumas consequências concretas desse medo – as violências praticadas contra os povos indígenas nas obras de Belo Monte, o enterro do projeto Escola sem Homofobia, a exclusão de vídeos para LGBTs da campanha de prevenção à AIDS no Carnaval, a Medida Provisória que cria cadastro compulsório para grávida, o Código Florestal que anistia madeireiros e não protege as florestas – mas prefiro dizer que o medo de Dilma de enfrentar a direita conservadora vem impedindo o governo de proteger o meio ambiente; de tornar real o ideal de igualdade de oportunidades; de reduzir os gastos com uma questionável dívida pública e de defender direitos humanos.
E esse medo é permanentemente “explicado” e “justificado” por uma militância esperançada ou cínica. Sobretudo nas redes sociais, militantes e líderes de movimentos sociais cooptados estão sempre a postos para “desculpabilizar” o medo do governo e livrá-lo do ônus de suas escolhas. Entretanto, o medo pode ser um mau conselheiro.
O que há por trás desse medo? A vontade do PT de permanecer no poder a qualquer custo, uma vez que o experimentou. O que há por trás do medo? O famigerado “pragmatismo”! O que há por trás do medo? A vontade de ser e continuar popular.
Ora, Como ressalta o filósofo francês Luc Ferry, que foi ministro da Educação em seu país, “é preciso ser popular para se conquistar o poder, e seria necessário poder ser, às vezes, impopular para exercê-lo bem”.
Mas o PT deseja exercer bem o poder? Ou quer apenas a popularidade para permanecer nele, ainda que com medo? Parafraseando um provérbio árabe, o partido ou político que nunca, no poder, encontrou um motivo para pô-lo em risco deve nos deixar desconfiados…
Se eu sou um “petista enrustido”, como disse o seguidor; se tenho alguma afinidade com o PT, certamente não é com esse PT que há nove anos está na Presidência, principalmente com o PT da presidenta Dilma.
Se tenho alguma afinidade com o PT, é certamente com aquele que se parece com o PSOL.
sábado, 17 de março de 2012
A TV Cultura não é pública. Ela é tucana
(clique no título acima para ver a postagem completa)
Mino Carta
Uma tevê pública é uma tevê pública, é uma tevê pública e é uma tevê pública, diria a senhora Stein. Pública. Um bem de todos, sustentado pelo dinheiro dos contribuintes. Uma instituição permanente, acima das contingências políticas, dos interesses de grupos, facções, partidos. A Cultura de São Paulo já cumpriu honrosamente a tarefa. Nas atuais mãos tucanas descumpre-a com rara desfaçatez.
A perfeita afinação entre a mídia nativa e o tucanato está à vista, escancarada, a ponto de sugerir uma conexão ideológica entre nossos peculiares social-democratas e os barões midiáticos e seus sabujos. A sugestão justifica-se, mas, a seu modo, é generosa demais. Indicaria a existência de ideias e ideais curtidos em uníssono, ao sabor de escolhas de vida orientadas no sentido do bem-comum. De fato, estamos é assistindo ao natural conluio entre herdeiros da casa-grande. -Nada de muito elaborado, entenda-se. Trata-se apenas de agir com a soberana prepotência do dono da terra e da senzala.
E no domingo 11 sou informado a respeito do nascimento de uma TV Folha. Triunfa nas páginas 2 e 3 da Folha de S.Paulo a certidão do evento, a prometer uma nova opção para as noites de domingo na tevê, com a jactanciosa certeza de que no momento não há opções. E qual seria o canal do novo programa? Ora, ora, o da Cultura. Ocorre que a tevê pública paulista acaba de oferecer espaço não somente à Folha, mas também a Estadão, Valor e Veja. Por enquanto, que eu saiba, só o jornal da família Frias aproveitou a oportunidade, com pífios resultados, aliás, em termos de audiência na noite de estreia.
Até o mundo mineral está em condições de perceber o alcance da jogada. Trata-se de agradar aos mais conspícuos barões da mídia, lance valioso às vésperas das eleições municipais no estado e no País. E com senhorial arrogância, decide-se enterrar de vez o sentido da missão de uma tevê pública. Tucanagens similares já foram cometidas em diversas oportunidades nos últimos anos, uma delas em 2010, o ano eleitoral que viu José Serra candidato à Presidência da República. Ainda governador, antes da desincompatibilização, Serra fechou ricos contratos de assinatura dos jornalões destinados a iluminar o professorado paulista.
Do volumoso pacote não constava obviamente CartaCapital, assim como somos excluídos do recente convite da Cultura. O que nos honra sobremaneira. Diga-se que, caso convidados (permito-me a hipótese absurda), recusaríamos para não participar de uma ação antidemocrática ao comprometer o perfil de uma tevê pública, amparada na indispensável contribuição de todos os cidadãos, independentemente dos seus credos políticos ou da ausência deles.
Volta e meia, CartaCapital é apontada como revista chapa-branca, simplesmente porque apoiou a candidatura de Lula e Dilma Rousseff à Presidência da República. Em democracias bem melhor definidas do que a nossa, este de apoiar candidatos é direito da mídia e valioso serviço para o público. Aqui, engole-se, sem o mais pálido arrepio de indignação, a hipocrisia de quem se pretende isento enquanto exprime as vontades da casa-grande. Há quem se abale até a contar os anúncios governistas nas páginas de CartaCapital, e esqueça de computar aqueles saídos nas demais publicações, para provar que estamos aos préstimos do poder petista.
Fomos boicotados durante os dois mandatos de Fernando Henrique e nem sempre contamos com o trato isonômico dos adversários que tomaram seu lugar. Fizemos honestas e nítidas escolhas na hora eleitoral e nem por isso arrefecemos no alerta perene do espírito crítico. Vimos em Lula o primeiro presidente pós-ditadura empenhado no combate ao desequilíbrio social, embora opinássemos que ficou amiúde aquém das chances à sua disposição. E fomos críticos em inúmeras situações.
Exemplos: juros altos, transgênicos, excesso de poder de Palocci e Zé Dirceu, Caso Battisti, dúbio comportamento diante de prepotências fardadas. E nem se fale do comportamento do executivo diante da Operação Satiagraha. Etc. etc. Quanto ao Partido dos Trabalhadores, jamais fugimos da constatação de que no poder portou-se como os demais.
Hoje confiamos em Dilma Rousseff, de quem prevemos um desempenho digno e eficaz. O risco que ela corre, volto a repetir na esteira de agudas observações de Marcos Coimbra, está no fruto herdado de uma decisão apressada e populista, a da Copa de 2014. Se o Brasil não se mostrar preparado para a empreitada, Dilma sofrerá as consequências do descrédito global.
No mais, desta vez dirijo minha pergunta aos leitores em lugar dos meus botões: qual é a mídia chapa-branca?
terça-feira, 13 de março de 2012
Dilma de ferro.
(clique no título acima para ver a postagem completa)
O título é uma óbvia brincadeira com o apelido da ex-primeira ministra inglesa e que deu nome ao atual filme de Meryl Streep.
Mas é também um alerta sobre como a presidenta do Brasil tem conduzido seu governo. Dilma tem uma característica muito marcante em sua administração e que até sítios internacionais já destacaram (clique aqui para ver): ela manda!
Ao contrário do seu antecessor, Dilma jamais poderá alegar desconhecer algo de seu governo. Ela segue uma linha de raciocínio e costuma ceder pouco as suas convicções. Por um lado isso é bom, porque deixa os aproveitadores de plantão alertas de que "hay gobierno". Por outro, ela insiste em situações que vão contra o desejo dos setores mais progressistas, como no caso de "Anta" de Holanda na Cultura, ou como o veto ao material educativo anti-homofobia e a campanha carnavalesca do mesmo tema.
Além disso, sabemos que o PIG (Partido da IMPRENSA Golpista, segundo o jornalista Paulo H. Amorim) força algumas situações para constrangê-la diante de seus aliados. A direita está muito incomodada com o governo ter a maioria no legislativo e sabem que, assim, Dilma consegue aprovar todas as mudanças sociais e políticas que deseja, o que a amedronta.
Mas, quem acompanha a política diariamente e ouve comentários aqui e acolá percebe que, de fato, a presidenta é um osso duro de roer e o que até o momento é visto como positivo por parte da população (a velha e preconceituosa história da faxina), pode se tornar um revés.
Gostemos ou não, como mostra o filme citado aqui no começo, uma presidenta que não tiver habilidade em agradar gregos e troianos nesse sistema capitalista pseudo-democrático que ela apoia, pode rodar. Para que isso não aconteça ela precisaria do apoio da sociedade civil mobilizada, mas são exatamente estes que ela tem contrariado nas políticas culturais, de saúde e reforma agrária, por exemplo.
Sairiam as ruas para defendê-la em casos de abuso da direita?
Que Dilma não se diferencia da Dama de Ferro apenas por sua ideologia (afinal, pelo menos neoliberal ela não parece ser), mas que saiba manejar a política de forma a evitar o retrocesso em 2014 com a volta do PSDB!
O título é uma óbvia brincadeira com o apelido da ex-primeira ministra inglesa e que deu nome ao atual filme de Meryl Streep.
Mas é também um alerta sobre como a presidenta do Brasil tem conduzido seu governo. Dilma tem uma característica muito marcante em sua administração e que até sítios internacionais já destacaram (clique aqui para ver): ela manda!
Ao contrário do seu antecessor, Dilma jamais poderá alegar desconhecer algo de seu governo. Ela segue uma linha de raciocínio e costuma ceder pouco as suas convicções. Por um lado isso é bom, porque deixa os aproveitadores de plantão alertas de que "hay gobierno". Por outro, ela insiste em situações que vão contra o desejo dos setores mais progressistas, como no caso de "Anta" de Holanda na Cultura, ou como o veto ao material educativo anti-homofobia e a campanha carnavalesca do mesmo tema.
Além disso, sabemos que o PIG (Partido da IMPRENSA Golpista, segundo o jornalista Paulo H. Amorim) força algumas situações para constrangê-la diante de seus aliados. A direita está muito incomodada com o governo ter a maioria no legislativo e sabem que, assim, Dilma consegue aprovar todas as mudanças sociais e políticas que deseja, o que a amedronta.
Mas, quem acompanha a política diariamente e ouve comentários aqui e acolá percebe que, de fato, a presidenta é um osso duro de roer e o que até o momento é visto como positivo por parte da população (a velha e preconceituosa história da faxina), pode se tornar um revés.
Gostemos ou não, como mostra o filme citado aqui no começo, uma presidenta que não tiver habilidade em agradar gregos e troianos nesse sistema capitalista pseudo-democrático que ela apoia, pode rodar. Para que isso não aconteça ela precisaria do apoio da sociedade civil mobilizada, mas são exatamente estes que ela tem contrariado nas políticas culturais, de saúde e reforma agrária, por exemplo.
Sairiam as ruas para defendê-la em casos de abuso da direita?
Que Dilma não se diferencia da Dama de Ferro apenas por sua ideologia (afinal, pelo menos neoliberal ela não parece ser), mas que saiba manejar a política de forma a evitar o retrocesso em 2014 com a volta do PSDB!
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Nova Imagem.
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do blog do Heródoto Barbeiro
do blog do Heródoto Barbeiro
A imagem dos gestores do Estado, sejam eles políticos, técnicos ou magistrados, está ficando mais clara para o cidadão comum. Não só porque os meios de comunicação de maior porte dedicam um espaço amplo para a publicação de reportagens investigativas, mas porque as novas mídias sociais oferecem as mais diversas informações e interpretações sobre esses personagens.
De quebra há livros com biografias ou reportagens mais aprofundadas sobre como o poder se mexe no Brasil. Isto mostra o vigor da democracia em construção e que certamente vai tomar novos contornos nos próximos anos, queiram ou não os que controlam hoje os poderes do Estado.
Há um redemoinho de ideias, informações, opiniões, investigações que pululam dos mais estranhos gadgets eletrônicos. Ninguém fica esquecido, seja para o elogio, seja para a crítica ácida e demolidora.
Os dominadores do Estado usam e abusam do seu poder econômico, político e jurisdicional para plantar as notícias que interessam para a perpetuação no poder de seus detentores e colhem melhores resultados de aprovação popular.
Vale tudo, até economizar recursos necessários para saneamento básico, educação, saúde, defesa do meio ambiente para investir em propaganda e publicidade. Não é mais possível distinguir uma coisa da outra quando o Estado, em suas diversas formas, a patrocina.
Há comerciais de 30 segundos, assessorias de todo tipo, sites, blogs, disparo automático de e-mails, releases de toda ordem, enfim com o dinheiro público é mais fácil. No meio dessa guerra midiática, fruto das transformações econômicas e tecnológicas do nosso tempo, o cidadão comum tem condições de formar sua própria opinião, ainda que alguns continuem achando que o povo não sabe votar.
Os partidos políticos utilizam com perfeição o ferramental disponível para vender a melhor imagem possível. Usam e abusam de programas políticos pagos pelo contribuinte e seus personagens não dispensam nem edição, nem Photoshop, nem maquiagem. Que mal tem?
Contudo entre a imagem que se quer passar e a percepção que o cidadão tem desses personagens há uma distância considerável. São personagens distantes um do outro. A confusão só não é maior porque há legendas com nomes. Em determinados momentos é difícil crer que o personagem na propaganda oficial dos partidos ou dos governos é o mesmo do noticiário.
O conteúdo do que fala não bate com as informações publicadas na velha e na nova mídia a seu respeito. Os solavancos políticos e sociais vividos hoje são sintomas da jovem democracia brasileira, que quer queiram ou não, se consolida e ganha contornos de maior participação popular. Os que têm consciência que são os contribuintes que mantêm tudo isso são os mais ativos, o que é indiscutivelmente um progresso.
sábado, 11 de fevereiro de 2012
De frente pro crime.
(clique no título acima para ver a postagem completa)
Tá lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...
O bar mais perto
Depressa lotou
Malandro junto
Com trabalhador
Um homem subiu
Na mesa do bar
E fez discurso
Prá vereador...
Depressa lotou
Malandro junto
Com trabalhador
Um homem subiu
Na mesa do bar
E fez discurso
Prá vereador...
Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...
Sem pressa foi cada um
Pro seu lado
Pensando numa mulher
Ou no time
Olhei o corpo no chão
E fechei
Minha janela
De frente pro crime...
Pro seu lado
Pensando numa mulher
Ou no time
Olhei o corpo no chão
E fechei
Minha janela
De frente pro crime...
pra entender melhor clique aqui
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Esse Kassab!
(clique no título acima para ver a postagem completa)
O prefeito da cidade São Paulo não perde uma oportunidade de criar "dificuldades" pra vender "facilidades". Depois da Cidade Limpa e da inspeção veicular (vide Controlar e a roubalheira demotucana) agora, em meio ao acidente de São Bernardo e do RJ ele diz que vai criar uma lei obrigando os edifícios a fazerem inspeção a cada 5 anos com "engenheiros técnicos autorizados".
Perai!
A função da prefeitura não é fiscalizar? Que ele contrate técnicos para vistoriar prédios.
Mas em sua lógica neoliberal conservadora, a obrigação de fazer inspeção é do próprio edifício que, claro, além do IPTU que já paga deve pagar para os "técnicos" aprovarem se está tudo ok a cada 5 anos. É a lógica invertida.
Esse Kassab!
Ah, só pra lembrar, esse Kassab só é prefeito porque um tal de Jose Serra o colocou como vice e depois abandonou a prefeitura de São Paulo!
O prefeito da cidade São Paulo não perde uma oportunidade de criar "dificuldades" pra vender "facilidades". Depois da Cidade Limpa e da inspeção veicular (vide Controlar e a roubalheira demotucana) agora, em meio ao acidente de São Bernardo e do RJ ele diz que vai criar uma lei obrigando os edifícios a fazerem inspeção a cada 5 anos com "engenheiros técnicos autorizados".
Perai!
A função da prefeitura não é fiscalizar? Que ele contrate técnicos para vistoriar prédios.
Mas em sua lógica neoliberal conservadora, a obrigação de fazer inspeção é do próprio edifício que, claro, além do IPTU que já paga deve pagar para os "técnicos" aprovarem se está tudo ok a cada 5 anos. É a lógica invertida.
Esse Kassab!
Ah, só pra lembrar, esse Kassab só é prefeito porque um tal de Jose Serra o colocou como vice e depois abandonou a prefeitura de São Paulo!
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Zeca Camargo: "Rita Lee pode dizer o que quiser"
(clique no título acima para ver a postagem completa)
do g1
Raras vezes fiquei tão feliz por ter me tornado um jornalista musical quanto nas oportunidades que tive de entrevistar Rita Lee. E elas foram várias – desde o tempo em que eu era um repórter num jornal mesmo, de papel (acredite: houve uma época onde as pessoas se informavam desse jeito!), na “Folha de S.Paulo”, até mais recentemente no programa que hoje apresento (“Fantástico”), passando, claro, por incontáveis encontros dos meus idos tempos de MTV. Não me lembro de Rita ter me decepcionado em nenhuma dessas vezes. E não digo isso por simples deslumbramento.
Sempre fui fã assumido de Rita. Por questão de uma geração, minha introdução ao seu trabalho não foi pelos Mutantes – banda que fui conhecer justamente depois de já muito admirar seu trabalho solo, pois ainda era criança quando eles estavam no auge – mas pela sua carreira solo. Dela, só tenho boas lembranças. “Tutti frutti” foi uma espécie de analgésico que me ajudou a atravessar a adolescência – e mesmo na sua fase mais pop, onde boa parte do seu público “antigo” começou a desconfiar da credibilidade de Rita (ao mesmo tempo em que uma audiência ainda maior ia sendo conquistada com sucessos como “Lança perfume”, “Saúde”, “Desculpe o auê” e quejandos), eu continuava um admirador fiel.
Se alguém vier falar mal de “Caso sério”, “Ôrra meu” e “Atlântida”, entre outros sucessos duvidosos, vai arrumar confusão comigo. (Podemos até argumentar que a “Rita dos anos 70” – de “Jardins da Babilônia”, “Eu e meu gato”, “Papai me empresta o carro”, “Doce vampiro”, “Mania de você”, e, claro, todo o “Fruto proibido” – tinha uma outra pegada, mas isso seria levar a discussão que quero levantar para outro canto, e sobretudo hoje não posso divagar…).
Levanto toda essa bola para tentar passar para você a dimensão do que significava para mim entrevistar Rita Lee. E não apenas da primeira vez que isso aconteceu, mas em todas as entrevistas que fiz com ela. Ser chamado por alguém que sempre foi uma referência tão forte para mim de “Zequinha”, como acabou acontecendo com o passar dos anos, era não apenas um sinal de intimidade – conquistada justamente nesses encontros –, mas um discreto elogio não-intencional: era como se Rita tivesse me dado a honra de fazer parte de um círculo muito exclusivo de pessoas que ela resolvia chamar por um diminutivo carinhoso. Coisas de um fã que de repente vira repórter e às vezes não sabe direito qual de seus dois lados é mais forte…
Por uma amiga em comum – Mônica Figueiredo, que foi minha diretora na “Capricho”, em meados dos anos 90 – tive ainda a chance de conhecer Rita mais de perto. A amizade das duas vinha de outras décadas – e eu, que era não apenas um editor-chefe dedicado, mas também um admirador de Mônica, peguei uma deliciosa (e frutífera) “carona” nesse convívio. O que só reforçou toda o amor e o respeito que eu tinha por Rita Lee.
De tantas coisas que ela tem para se tirar o chapéu, talvez a que mais me encanta até hoje é sua honestidade. Rita usou essa carta na manga durante toda sua vida – e não apenas em sua música. Em todas as entrevistas que fiz com ela, era isso que mais que encantava: para câmera (ou apenas para o repórter), ela dizia o que pensava – mesmo que fosse uma revelação que pudesse pesar contra ela. Entre tantas passagens assim, lembro-me de umas boas que saíram de uma ocasião em 2004 – um feliz encontro em que Rita estava extremamente à vontade.
Alguns pontos altos:
“Eu experimentei Botox outro dia… Ficou mais leve, mas o combinado era eu ficar parecida com a Gisele Bündchen”.
“Me colocaram um pino de titânio – eu tenho um lado bem tortinho aqui, ó – mas eu gosto dele…”.
“Deixa cair… tá bom… eu não posso reclamar… depois de tudo que eu fiz Zequinha, meu filho…”.
Como não gostar de uma mulher assim? Todas essas frases, porém – e todas as outras que já ouvi (direta ou indiretamente) Rita dizer – ficaram menores quando, no sábado passado, durante o que foi anunciado como seu “show de despedida dos palcos”, Rita Lee disse o seguinte:
“Vocês não têm o direito de usar a força na meninada – que não tá fazendo nada! Cadê o responsável, eu quero falar! Esse show é meu, não é de vocês! Esse show é minha despedida do palco, e vocês continuam tendo que guardar as pessoas – não agredir. Seus cachorros – coitados dos cachorros…”.
A, hum, “colocação” não foi dita, claro, em uma entrevista íntima, mas diante de uma plateia de milhares de sergipanos (o show foi em Aracaju), que foi surpreendida pelo que parecia ser uma revista de policiais à procura de drogas. Rita – que, como ela mesma disse então, é do tempo da ditadura, ficou deveras incomodada com o que ela julgou ser truculência na ação – para não falar da arbitrariedade da própria atitude. (Já imaginou se o mesmo “choque de ordem” fosse determinado em outros tantos shows e festivais que agora acontecem no Brasil? De destino obrigatório para artistas em ascensão e já consagrados, passaríamos à escala a ser evitada – para não dizer “motivo de piada” anacrônica – para o melhor da música atual. Mas eu, enfim, divago…). Diante do que via, Rita não se conteve – soltou o verbo.
Seu discurso foi bem maior – e bem mais forte – do que o breve trecho que citei acima. Além dessa reportagem que você pode conferir aqui mesmo no G1, não é nada difícil encontrar na própria internet dezenas de outros registros (alguns até mais completos) de seu discurso. Mas nem é preciso analisar muito seu texto para entender porque o protesto de Rita – que com propriedade impecável insistia: “Esse show é meu, não é de vocês!” – fez com que ela fosse detida pela própria polícia. “Cachorros”, a bem dizer, foi a palavra mais “carinhosa” que ela usou para criticar os homens da lei. Talvez se ela tivesse ficado por aí, a confusão teria sido abafada. Mas aí Rita mandou um “filhos da puta”. E pronto…
Em seu depoimento oficial, Rita Lee disse que agiu movida pelo “calor das emoções” – certamente um resumo bem vago para definir a somatória de todas as experiências de cantora nessa sua trajetória de anos – de fato, ela passou por toda a montanha-russa de mudanças políticas e sociais, que toda uma geração (talvez duas), que hoje faz o que quer (seja num show de rock, no meio de uma multidão, ou no quintal da sua casa, na frente de seus pais), nem desconfia que essa mesma liberdade teve que ser muito batalhada. E por gente como Rita Lee! Isso, como você pode imaginar, deixa uma marca nas pessoas. Do seu lado, a polícia de Sergipe soltou uma nota dizendo que não houve, naquela noite, nenhuma ação que justificasse “os insultos proferidos pela cantora Rita Lee durante sua apresentação”.
Observando apenas as imagens, não é muito simples decidir quem estava mais com a razão. O que me parece é que a situação criada tem muito pouco a ver com o que estava acontecendo em si, e mais com os registros de coisas passadas. Rita, como ela mesmo disse – e eu acabei de ressaltar aqui – tem sua cota de experiências com truculência militar e repressão de todo tipo na história de sua carreira (que, como toda boa roqueira, se confunde com sua própria história de vida). E a própria polícia – ainda que não especificamente de Sergipe (cujo passado específico desconheço) – sabe que tem na sua história momentos de exagero que em nada contribuíram para criar uma imagem positiva – não só com a geração de Rita, como com as que vieram depois dela. As duas coisas misturadas, numa noite de (citando Rita) fortes emoções, deu nisso!
Poderia ter sido apenas mais um capítulo de um longo livro – que felizmente nunca acabará de ser escrito – chamado: “It’s ony rock n’roll but I like it”. Mas a detenção de Rita ganhou, inevitavelmente uma repercussão nacional – e em mais de uma roda de conversa que participei neste domingo, dividiu opiniões. Como provoquei logo de início – ali acima, no título do post de hoje – eu acho sim que Rita Lee pode dizer o que quiser. Aliás, qualquer cidadão pode ter o direito de dizer o que quiser – até mesmo Rafinha Bastos. Não estou com isso, vale explicar, comparando os dois artistas, muito menos o conteúdo do que eles disseram (Rita na noite de sábado, e Rafinha na sua infeliz – e o que seria última – participação no “CQC”). O que é importante – e aí a analogia faz sentido – é que cada um que diz o que quer deve ter noção do peso de suas palavras. E eu não tenho nenhuma dúvida que Rita sabia exatamente o quanto as suas pesavam.
No contexto de tudo que foi dito, não vejo as palavras da cantora como uma provocação – mas sim uma reação. Não estou, de maneira alguma, desafiando eu também as autoridades, nem questionando o que define a sensibilidade desses profissionais (públicos, é bom lembrar) a ponto de considerar um ou outro ataque como “desacato”. A lei e suas interpretações estão aí para isso mesmo – e imagino que o processo vá se desenrolar nos próximos dias, como é de se esperar. O que quero mais hoje aqui é saber da sua opinião: Por tudo que ela representou esses anos todos para mim – e eu diria (sem medo de errar) até para o Brasil! -, eu digo mais uma vez: Rita Lee pode dizer o que quiser. Será que você colocaria um ponto de interrogação nessa frase?
Enquanto você pensa, deixa eu mandar um “correio elegante” para a Rita? Aqui vai: “Meu amor, justamente por episódios como os deste fim-de-semana que eu torço para que essa conversa de despedida dos palcos não seja a sério… Diz pra mim que você tá só dando uma de Frank Sinatra, vai? E que a gente ainda vai ter muitas e muitas chances de se despedir de você? Bejo!”.
O refrão nosso de cada dia: “The drugs don’t work”, The Verve.
Ok, eu admito: essa canção não é exatamente uma raridade – nem uma faixa obscura para a qual eu quero chamar sua atenção (como é o caso de boa parte das indicações que você conhece por aqui). Mas eu a ouvi por acaso neste fim-de-semana – e por uma (sempre) estranha associação de ideias, eu conectei uma das músicas mais bonitas do Verve (na verdade, uma das músicas mais bonitas que já foram feitas sobre degeneração e o fim inevitável que espera por todos nós – wow!), com os eventos descritos no post acima. Se você já a conhece (como eu acho que é o caso), aproveite para ouvi-la de novo. Se nunca a escutou, desculpe: ela vai fazer você chorar.
do g1
Raras vezes fiquei tão feliz por ter me tornado um jornalista musical quanto nas oportunidades que tive de entrevistar Rita Lee. E elas foram várias – desde o tempo em que eu era um repórter num jornal mesmo, de papel (acredite: houve uma época onde as pessoas se informavam desse jeito!), na “Folha de S.Paulo”, até mais recentemente no programa que hoje apresento (“Fantástico”), passando, claro, por incontáveis encontros dos meus idos tempos de MTV. Não me lembro de Rita ter me decepcionado em nenhuma dessas vezes. E não digo isso por simples deslumbramento.
Sempre fui fã assumido de Rita. Por questão de uma geração, minha introdução ao seu trabalho não foi pelos Mutantes – banda que fui conhecer justamente depois de já muito admirar seu trabalho solo, pois ainda era criança quando eles estavam no auge – mas pela sua carreira solo. Dela, só tenho boas lembranças. “Tutti frutti” foi uma espécie de analgésico que me ajudou a atravessar a adolescência – e mesmo na sua fase mais pop, onde boa parte do seu público “antigo” começou a desconfiar da credibilidade de Rita (ao mesmo tempo em que uma audiência ainda maior ia sendo conquistada com sucessos como “Lança perfume”, “Saúde”, “Desculpe o auê” e quejandos), eu continuava um admirador fiel.
Se alguém vier falar mal de “Caso sério”, “Ôrra meu” e “Atlântida”, entre outros sucessos duvidosos, vai arrumar confusão comigo. (Podemos até argumentar que a “Rita dos anos 70” – de “Jardins da Babilônia”, “Eu e meu gato”, “Papai me empresta o carro”, “Doce vampiro”, “Mania de você”, e, claro, todo o “Fruto proibido” – tinha uma outra pegada, mas isso seria levar a discussão que quero levantar para outro canto, e sobretudo hoje não posso divagar…).
Levanto toda essa bola para tentar passar para você a dimensão do que significava para mim entrevistar Rita Lee. E não apenas da primeira vez que isso aconteceu, mas em todas as entrevistas que fiz com ela. Ser chamado por alguém que sempre foi uma referência tão forte para mim de “Zequinha”, como acabou acontecendo com o passar dos anos, era não apenas um sinal de intimidade – conquistada justamente nesses encontros –, mas um discreto elogio não-intencional: era como se Rita tivesse me dado a honra de fazer parte de um círculo muito exclusivo de pessoas que ela resolvia chamar por um diminutivo carinhoso. Coisas de um fã que de repente vira repórter e às vezes não sabe direito qual de seus dois lados é mais forte…
Por uma amiga em comum – Mônica Figueiredo, que foi minha diretora na “Capricho”, em meados dos anos 90 – tive ainda a chance de conhecer Rita mais de perto. A amizade das duas vinha de outras décadas – e eu, que era não apenas um editor-chefe dedicado, mas também um admirador de Mônica, peguei uma deliciosa (e frutífera) “carona” nesse convívio. O que só reforçou toda o amor e o respeito que eu tinha por Rita Lee.
De tantas coisas que ela tem para se tirar o chapéu, talvez a que mais me encanta até hoje é sua honestidade. Rita usou essa carta na manga durante toda sua vida – e não apenas em sua música. Em todas as entrevistas que fiz com ela, era isso que mais que encantava: para câmera (ou apenas para o repórter), ela dizia o que pensava – mesmo que fosse uma revelação que pudesse pesar contra ela. Entre tantas passagens assim, lembro-me de umas boas que saíram de uma ocasião em 2004 – um feliz encontro em que Rita estava extremamente à vontade.
Alguns pontos altos:
“Eu experimentei Botox outro dia… Ficou mais leve, mas o combinado era eu ficar parecida com a Gisele Bündchen”.
“Me colocaram um pino de titânio – eu tenho um lado bem tortinho aqui, ó – mas eu gosto dele…”.
“Deixa cair… tá bom… eu não posso reclamar… depois de tudo que eu fiz Zequinha, meu filho…”.
Como não gostar de uma mulher assim? Todas essas frases, porém – e todas as outras que já ouvi (direta ou indiretamente) Rita dizer – ficaram menores quando, no sábado passado, durante o que foi anunciado como seu “show de despedida dos palcos”, Rita Lee disse o seguinte:
“Vocês não têm o direito de usar a força na meninada – que não tá fazendo nada! Cadê o responsável, eu quero falar! Esse show é meu, não é de vocês! Esse show é minha despedida do palco, e vocês continuam tendo que guardar as pessoas – não agredir. Seus cachorros – coitados dos cachorros…”.
A, hum, “colocação” não foi dita, claro, em uma entrevista íntima, mas diante de uma plateia de milhares de sergipanos (o show foi em Aracaju), que foi surpreendida pelo que parecia ser uma revista de policiais à procura de drogas. Rita – que, como ela mesma disse então, é do tempo da ditadura, ficou deveras incomodada com o que ela julgou ser truculência na ação – para não falar da arbitrariedade da própria atitude. (Já imaginou se o mesmo “choque de ordem” fosse determinado em outros tantos shows e festivais que agora acontecem no Brasil? De destino obrigatório para artistas em ascensão e já consagrados, passaríamos à escala a ser evitada – para não dizer “motivo de piada” anacrônica – para o melhor da música atual. Mas eu, enfim, divago…). Diante do que via, Rita não se conteve – soltou o verbo.
Seu discurso foi bem maior – e bem mais forte – do que o breve trecho que citei acima. Além dessa reportagem que você pode conferir aqui mesmo no G1, não é nada difícil encontrar na própria internet dezenas de outros registros (alguns até mais completos) de seu discurso. Mas nem é preciso analisar muito seu texto para entender porque o protesto de Rita – que com propriedade impecável insistia: “Esse show é meu, não é de vocês!” – fez com que ela fosse detida pela própria polícia. “Cachorros”, a bem dizer, foi a palavra mais “carinhosa” que ela usou para criticar os homens da lei. Talvez se ela tivesse ficado por aí, a confusão teria sido abafada. Mas aí Rita mandou um “filhos da puta”. E pronto…
Em seu depoimento oficial, Rita Lee disse que agiu movida pelo “calor das emoções” – certamente um resumo bem vago para definir a somatória de todas as experiências de cantora nessa sua trajetória de anos – de fato, ela passou por toda a montanha-russa de mudanças políticas e sociais, que toda uma geração (talvez duas), que hoje faz o que quer (seja num show de rock, no meio de uma multidão, ou no quintal da sua casa, na frente de seus pais), nem desconfia que essa mesma liberdade teve que ser muito batalhada. E por gente como Rita Lee! Isso, como você pode imaginar, deixa uma marca nas pessoas. Do seu lado, a polícia de Sergipe soltou uma nota dizendo que não houve, naquela noite, nenhuma ação que justificasse “os insultos proferidos pela cantora Rita Lee durante sua apresentação”.
Observando apenas as imagens, não é muito simples decidir quem estava mais com a razão. O que me parece é que a situação criada tem muito pouco a ver com o que estava acontecendo em si, e mais com os registros de coisas passadas. Rita, como ela mesmo disse – e eu acabei de ressaltar aqui – tem sua cota de experiências com truculência militar e repressão de todo tipo na história de sua carreira (que, como toda boa roqueira, se confunde com sua própria história de vida). E a própria polícia – ainda que não especificamente de Sergipe (cujo passado específico desconheço) – sabe que tem na sua história momentos de exagero que em nada contribuíram para criar uma imagem positiva – não só com a geração de Rita, como com as que vieram depois dela. As duas coisas misturadas, numa noite de (citando Rita) fortes emoções, deu nisso!
Poderia ter sido apenas mais um capítulo de um longo livro – que felizmente nunca acabará de ser escrito – chamado: “It’s ony rock n’roll but I like it”. Mas a detenção de Rita ganhou, inevitavelmente uma repercussão nacional – e em mais de uma roda de conversa que participei neste domingo, dividiu opiniões. Como provoquei logo de início – ali acima, no título do post de hoje – eu acho sim que Rita Lee pode dizer o que quiser. Aliás, qualquer cidadão pode ter o direito de dizer o que quiser – até mesmo Rafinha Bastos. Não estou com isso, vale explicar, comparando os dois artistas, muito menos o conteúdo do que eles disseram (Rita na noite de sábado, e Rafinha na sua infeliz – e o que seria última – participação no “CQC”). O que é importante – e aí a analogia faz sentido – é que cada um que diz o que quer deve ter noção do peso de suas palavras. E eu não tenho nenhuma dúvida que Rita sabia exatamente o quanto as suas pesavam.
No contexto de tudo que foi dito, não vejo as palavras da cantora como uma provocação – mas sim uma reação. Não estou, de maneira alguma, desafiando eu também as autoridades, nem questionando o que define a sensibilidade desses profissionais (públicos, é bom lembrar) a ponto de considerar um ou outro ataque como “desacato”. A lei e suas interpretações estão aí para isso mesmo – e imagino que o processo vá se desenrolar nos próximos dias, como é de se esperar. O que quero mais hoje aqui é saber da sua opinião: Por tudo que ela representou esses anos todos para mim – e eu diria (sem medo de errar) até para o Brasil! -, eu digo mais uma vez: Rita Lee pode dizer o que quiser. Será que você colocaria um ponto de interrogação nessa frase?
Enquanto você pensa, deixa eu mandar um “correio elegante” para a Rita? Aqui vai: “Meu amor, justamente por episódios como os deste fim-de-semana que eu torço para que essa conversa de despedida dos palcos não seja a sério… Diz pra mim que você tá só dando uma de Frank Sinatra, vai? E que a gente ainda vai ter muitas e muitas chances de se despedir de você? Bejo!”.
O refrão nosso de cada dia: “The drugs don’t work”, The Verve.
Ok, eu admito: essa canção não é exatamente uma raridade – nem uma faixa obscura para a qual eu quero chamar sua atenção (como é o caso de boa parte das indicações que você conhece por aqui). Mas eu a ouvi por acaso neste fim-de-semana – e por uma (sempre) estranha associação de ideias, eu conectei uma das músicas mais bonitas do Verve (na verdade, uma das músicas mais bonitas que já foram feitas sobre degeneração e o fim inevitável que espera por todos nós – wow!), com os eventos descritos no post acima. Se você já a conhece (como eu acho que é o caso), aproveite para ouvi-la de novo. Se nunca a escutou, desculpe: ela vai fazer você chorar.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Jose e Pilar
Esta noite ganhei um presente.
O mais curioso é que seu autor jamais saberá que me o deu. Trata-se de Miguel Gonçalves Mendes, diretor do Filme Jose e Pilar.
Eu, que sou fã de tudo que Jose Saramago fez e disse fiquei
encantado com essas duas horas de vivência íntima com ele e sua mulher.
Não sei bem explicar racionalmente porque gosto tanto de sua obra. Só sei que quando leio/lia um livro seu sentia o que é poesia e arte. As palavras são postas por Saramago de uma maneira muito questionadora e ao mesmo tempo lírica.
E assim é também a película.
O mote é o amor na velhice, mas , no fundo, se traz as questões básicas do sentido da vida e de como levamos a vida.
Ainda que tenha sido belo o final, depois de tanta dedicação Miguel poderia ter preservado o autor de dizer a Pilar o que ele não disse no sentido que a edição nos faz crer. Afinal, ele era um ateu confesso.
DEPOIMENTOS SOBRE O FILME
O mais curioso é que seu autor jamais saberá que me o deu. Trata-se de Miguel Gonçalves Mendes, diretor do Filme Jose e Pilar.
Eu, que sou fã de tudo que Jose Saramago fez e disse fiquei
encantado com essas duas horas de vivência íntima com ele e sua mulher.
Não sei bem explicar racionalmente porque gosto tanto de sua obra. Só sei que quando leio/lia um livro seu sentia o que é poesia e arte. As palavras são postas por Saramago de uma maneira muito questionadora e ao mesmo tempo lírica.
E assim é também a película.
O mote é o amor na velhice, mas , no fundo, se traz as questões básicas do sentido da vida e de como levamos a vida.
Ainda que tenha sido belo o final, depois de tanta dedicação Miguel poderia ter preservado o autor de dizer a Pilar o que ele não disse no sentido que a edição nos faz crer. Afinal, ele era um ateu confesso.
DEPOIMENTOS SOBRE O FILME
Tropa de Elite 2
Aproveite e leia a crítica do
filme Jose e Pilar (clique aqui)
Superação. É a palavra que encontro para ter assistido no cinema ao filme Tropa de Elite 2.
Isso porque demorei, e muito, para ver o primeiro, pois só a temática do filme e o que via de críticas já me incomodava. O pior é que quando o vi, detestei-o.
Por isso, tive de me superar para assistir ao segundo. O que me levou a sala do cinema foi
que ao assistir ao trailer percebi que claramente o Jose Padilha, diretor do filme, buscava se retratar de uma visão que incentivava a violência e, principalmente, a violência policial do primeiro filme.
Mas a continuação já começa da pior maneira possível: ainda narrada pelo capitão/coronel nascimento ele já explicita: o que você verá "parceiro" é a minha visão fascista e sanguinária de como deve se resolver o problema da segurança pública.
A história se desenrola e o protagonista vai descobrindo que ele é mais um fantoche do "sistema feito para eleger e reeleger sempre a mesma classe política". Aqui vale lembrar e fazer a relação direta com os ataques do PCC à cidade de São Paulo no ano de 2006, ano que elegeu Jose Serra governador de São Paulo.
De volta ao Tropa de Elite, Nascimento então começa a se transformar de bandido fardado a vítima herói. Só que não um herói qualquer, mas um novo Macunaíma, um herói sem caráter.
E aí o diretor deveria saber que suas obras ficarão no panteão das obras primas dos direitistas demo/psdbistas e ele está gostando disso ou ele deveria ir se especializar em dramaturgia e semiótica porque transformando em vítima um Nascimento, o viés da crítica, o que fica forte é o terror, a violência e a repressão como forma de controle social.
Não tenha dúvida: o espectador sai da sala do cinema pensando que o "inimigo agora é outro", mas como esse inimigo não tem cara, só nos resta esperar que outros Nascimentos (com sua personalidade pitbull) façam parte das polícias brasileiras para nos salvar.
Aproveite e leia a crítica do
filme Jose e Pilar (clique aqui)
domingo, 13 de junho de 2010
Quando todos são nenhum
O dia do Sr José na Conservatória Geral do Registo Civil é um dia típico de um funcionário da burocracia pública. Sua tarefa consiste em preencher verbetes de pessoas que nascem e morrem todos os dias. Vizinho do seu trabalho, a diversão do Sr José é colecionar recortes de periódicos e notícias de gente famosa, celebridades.
Um dia, ele resolve anexar à sua coleção de celebridades os verbetes da Conservatória, que furta durante o período noturno. Numa dessas "pesquisas", o Sr José retira o verbete de uma mulher desconhecida e resolve investigar sobre esta mulher.
É a partir daí que a genialidade de José Saramago vêm à tona. Acompanhando o dia-a-dia desse funcionário e as dificuldades e aventuras em prosseguir com sua pesquisa o leitor é chamado a refletir sobre
a solidão.
a solidão.
O Sr José é um homem preso ao vazio de sua existência, a procura de si mesmo, a partir da procura do outro.
Escrito em 1997,"Todos os Nomes" é uma resposta clara e evidente ao caos criado na mídia nos tempos atuais, onde celebridades se criam e são criadas a todo o instante.
Ser famoso não é uma situação tão nova, porém a curiosidade e o voyerismo crescente e a quantidade de gente nessa situação é que impressiona.
E é essa a genialidade de Saramago. O ponto central da obra é descobrir-se como um ser passivo, solitário, que busca no mundo fictício, virtual e imaginário um afago a suas dores e aflições.
Saramago é o autor mais refinado, inteligente, sensível e criativo dos últimos 50 anos. Acompanhar suas narrativas é como abrir um novo mundo a sua frente. É saber-se não saber. É Ter tudo e ao mesmo tempo nada. Um homem que encontra na sua arte uma dialética tão buscada e nem sempre conseguida por grandes artistas. Sem dúvida, esta não é a única obra de Saramago que merece ser lida, mas é tão atual como outras como "O homem duplicado" ou "A caverna".
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