Prisioneiro
(Dani Ciasca)
Tendes a maturidade a brilhar em vosso cabelo,
A sabedoria nas enfatuadas palavras que dizeis,
E no entanto, olhais para a cidade e as pessoas
Que nela vivem, sobrevivem
Como quem olha uma folha seca ao chão.
Culpado.
De todos os caminhos que podíeis escolher
Ao longo da vida a seguir seu curso,
Escolhestes o mais doloroso.
O que vos levastes a solidão pungente,
Dilacerante, por vezes cruel.
Culpado.
No tempo que fôreis menino
Quisestes romper barreiras.
Optar pelo imponderável,
Absurdo.
E tivestes a audácia de desafiar
As regras, o seguro.
Culpado.
Entre soltar o grito que vos afligíeis
Lutar pelo dificultoso e ser, quem sabe,
O responsável pela mudança,
Preferistes calar-vos e seguir adiante.
Culpado.
Sois culpado.
Sois culpado porque vos culpa a culpa.
A culpa de não serdes o que vossos pais sonharam,
O que vossos amigos esperaram,
O que vossos patrões exigiam.
O que é a culpa senão a nossa
Incapacidade de sermos nós mesmos?
Tivestes medo de que vos culpasse
Pelo fracasso alheio
E não percebestes que o maior culpado
De todos os vossos males é a culpa
Que sentistes.
Culpado.
Culpado.
Culpado.
Culpado.
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