segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Pequenos gestos geram comportamentos.
Conheço muita gente, incluindo aí baianos, que reclama da sujeira de Salvador. Também encontro muito discurso preconceituoso dos próprios baianos com relação a seu povo:
-"A mulher baiana se veste muito vulgar"
- "Aqui as pessoas são muito mal educadas"
Toda vez que isso acontece fico refletindo. Afinal,
trabalho numa favela em SP e poderia dizer que lá é um microcosmo da cidade de Salvador.
Sim, é verdade que tanto em SSA quanto na Vila Albertina as pessoas teem o péssimo hábito de jogar o lixo no chão, sem nenhum cuidado com o bem público.
E também não vou aqui defender que isso seja feito. Mas fico pensando o quanto dessas atitudes refletem no jeito de ser das pessoas?
Pois é inegável e os próprios baianos reconhecem que as relações interpessoais aqui em Salvador, e na Bahia em geral, são infinitamente melhores do que em São Paulo. Aqui as pessoas se olham, se cumprimentam e conversam umas com as outras, mesmo sem se conhecer. Aqui você pode perguntar sobre como chegar em algum lugar que quase ninguém vai te olhar com cara feia. Pelo contrário, vão explicar com detalhes e um sorriso no rosto.
Tenho a sensação de que a medida que uma sociedade vai ficando mais "civilizada" ela vai ficando mais chata e individualista. O tempo que se gasta em São Paulo para deixar um lugar "limpo e organizado" é o tempo que se perde para conversar sobre a vida e de compartilhar com o outro alegrias, histórias e curiosidades.
Há que se ter o mínimo de cuidado com higiene, saúde e respeito ao bem público mas passou do mínimo já vira exagera, vira o higienismo hitlerista. Ou você ainda não percebeu que a sala da sua casa provavelmente é pintada de branca e você se esforça todo o dia para deixá-la limpa, sem nenhuma mancha escura de pó?
Tudo isso pode parecer um exagero, mas vale a pena refletir o quanto não introjetamos em pequenos gestos uma ideologia de raça e elitista.
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