quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Poesia Guineense

Eu sou menino de Tabanca


Ao amanhecer piso o chão suado,
Recordo melodias, acalentos.
Eu sou menino cultivador,
Semeio as doces flores no meu sonho,
As minhas mãos adultas se sujam de terra fértil.


A minha barriga é um tambor
Um tambor que não soa dor,
O meu pé é uma enxada que rompe o solo campestre.
Nas noites suadas, a lua apaga-se dentro do meu sangue
(No sangue febril e morno de menino)
Embebedam-se as ervas e as raízes para matar os vermes
Mas estes malignos bichos rejeitam os efeitos
e brincam no meu tambor.


Não posso renegar o que sou
Obedeço a mim de ser o menino de tabanca.
O meu nome está nas folhas das ervas
Nas margens dos arvoredos ou matagal
Não nas folhas do notariado.






Sei que o meu direito é torto, mas,
Na tabanca vivo à vontade
Ninguém me desconhece
A minha identidade está nos calos das mãos e dos calcanhares
Está nos olhares famintos que perfuram gaiolas de passarinhos,
Está nas sombras floridas em que me instalo
Por ser menino, canto esses versos vulgares, melodicos.
Berro e cacarejo enquanto cultivo na terra molhada.
Misteriosamente desobedeço aos preceitos tabanqueiros.
Como se vê, no desvio do meu pranto,
Resgato do chão submerso a esperança de quem sou
Do simples Menino de tabanca que sonha.

António Navegante de Catidi

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